Freixial e os transportes



Há dias uma amiga deste nosso Freixial (peço desculpa mas escapou o nome) pedia que indicasse publicações que referenciavam o Freixial como um bom lugar para a saúde.


São diversas as noticias em jornais. Publico este, porque junta duas coisas num mesmo texto: a valorização do Freixial pelas suas características naturais e a chegada à vila das carreiras de camionetas.

A publicação é o jornal O Regionalista de 30 de Junho de 1927.



Na página 3 um texto com o título "Pelo Freixial", que anexo como foto. Diz, a certa altura que se respira no Freixial "ar puro e higiénico e bebe-se excelentes águas", motivador da presença de "muitos forasteiros (...) que vão fazer a propaganda por toda a parte, o que origina certamente o aumento de visitas de forasteiros".

Mais à frente refere que "foi esta vila dotada com um importante melhoramento. Foram estabelecidas carreiras de camionetas entre Lumiar, Loures, Tojais, Bucelas e Freixial e vice versa, duas vezes por dia, uma de manhã e outra de tarde".

Terminava o autor do texto dizendo que o Freixial teria a lucrar com o estabelecimento das carreiras, facilitando a vinda de forasteiros, "para passarem lá a estação calmosa".

Carlos Cardoso
Jornalista

ver também aqui

A Ponte do Rio Trancão

Remonta a 2 de Julho de 1958 a escritura de adjudicação da empreitada para a construção de um pontão sobre o rio Trancão,no lugar de Freixial.

Foi aberto um concurso público para a obra, por parte da Câmara de Loures, que para além da ponte contemplava o arranjo do Largo Principal e a pavimentação de ruas.

A escritura recorda que a atribuição da obra foi tomada em reunião do Executivo de 6 de Junho de 1958 ao empreiteiro Joaquim Barbosa Diniz Vinagreiro, morador na localidade de Fanhões.

O valor da obra, para a época, já era expressivo, situando-se em 109.845 contos.

A empreitada seria feita de forma faseada mas a primeira obra era exactamente a ponte ou pontão, sinal da sua extrema necessidade. Uma necessidade que devia decorrer do estado deplorável em que se encontrava a ponte. De facto, já em 1949, ou sejam dez anos antes, a Direcção Hidráulica do Tejo ou à Direcção Hidráulica do Tejo, não consegui apurar, teria solicitado a reparação da ponte. Como penso que apenas havia,no Freixial, uma única ponte sobre o Trancão, estaremos a falar do mesmo equipamento.

Dez anos !!!

Para termos presente, publico a primeira página da escritura da adjudicação da empreitada.


Carlos Cardoso
(Jornalista)

um post no grupo fechado "Amigos do Freixial, FB.
Este post tem um comentário, colaboração, de Eduardo Parreira ao acrescentar:

E o pontão que se estará a focar será certamente este.
Por sinal a necessitar de conservação numa das 3 vigas.
Terá a idade de 61 anos.
E terá tido algumas décadas muita utilizada.

Entrevista de Baptista Bastos a Alves Redol

Entrevista de Baptista Bastos a Alves Redol, quando este vivia no Freixial, publicado no Século Ilustrado, n.º 1062, 10 de Maio de 1958.


a Festa de 1964

cedido por Carla Mendes Paulo

Associação de Socorros Mútuos de Bucelas

Existe no Freixial um pequeno edifício, situado na rua 8 de Março, que tem na parede um painel de azulejos, feitos na Viúva Lamego, uma importante empresa cerâmica, com os seguintes dizeres. "Associação de Socorros Mútuos da Freguesia de Bucelas- Consultório graciosamente cedido pela Exª S.D. Julie Mazens de Azevedo. Julho de 1945".

Aos poucos e poucos vamos recolhendo dados que nos permitem perceber o papel das instituições e das pessoas que dirigiam essas instituições, Sobre esta Associação de Socorros diria que está quase tudo por fazer.

Sabe-se que terá sido criada em 1944 ou 1945. Tudo indica que terá sido neste último ano.Ora, esta data levanta logo uma interrogação: cria-se uma Associação de Socorros Mútuos e logo nesse mesmo ano é criado um consultório no Freixial? Das duas uma: ouexistiam razões fortes que levaram a escolher o Freixial (não temos conhecimento de mais nenhum consultório noutra localidade) ou a Associação situou-se mesmo...no Freixial.

Sabe-se quem foi o seu mentor: o Engº Agrónomo Vasco Alcobia. Tinha uma propriedade em Bucelas, a Quinta de Santa Júlia, designada como uma casa oitocentista do século XIX no site da Junta. Seria pessoa que faria parte da elite local, pois aquando do 2º aniversário da Associação de Socorros teve lugar uma sessão solene que contou com a presença do Governador Civil de Lisboa.

Como curiosidade: o engº Vasco Alcobia era dono de um terreno na marginal de ligação a Cascais, onde foi construído um conhecido restaurante, com uma vista fabulosa para o Tejo, o "Boa Viagem", inaugurado em 1949. Mais tarde ficou abandonado e está agora a ser recuperado para novos fins.

A Associação tinha pelo menos sete médicos. Um de Clínica médica e sete especialistas. Sabe-se que o consultório do médico de Clínica Geral teve nos anos de 1945 e 1946, nada menos,nada mais do que 2.255 consultas!

O trabalho sobre esta Associação só agora começou.O Freixial está a ser o ponto de partida para compreender o seu papel e a sua importância para a comunidade.Todos os contributos são, por isso, bem vindos.

 Jornalista

FREIXIAL E A CAÇA

Publiquei hoje uma pequena noticia, do jornal "5 de Outubro" que dava conta de algumas preocupações quanto ao não cumprimento por parte de caçadores do período de "defeso".

Entretanto, tive acesso a uma outra publicação a revista de arte e turismo "Panorama" de 1944, onde dá conta de "a meio da estrada que liga Bucelas ao Freixial, em local aprazível e muito pitoresco, foi recentemente fundado, com este título, um centro desportivo de caça,pesca e tiro a chumbo". O título, que era o nome do centro era "O Paço do Caçador".

Não sei se alguém ouviu falar deste centro, que de acordo com a noticia tinha uma sede que podia ser utilizada como casa de campo para fins de semana e que tinha como objectivos contribuir "para o prestigio,progresso e maior desenvolvimento da caça,pesca e do tiro aos pombos", "fundar coutadas", "instalar um canil", "organizar pescarias e concursos".

Também não sei exactamente o local onde ficou situado.



Carlos Cardoso
(jornalista)

tratando-se uma uma publicação do FB, que o Jornalista Carlos Cardoso autorizou a publicar aqui,
Referimos alguns comentários que poderão ser importantes registar:

Eduardo Parreira

E esta associação, deveria talvez utilizar estas instalações.














Carlos Cardoso 
Tanta coisa por confirmar
... ...

Jesus Fernandes: 
Sim, recordo como restaurante “O PAÇO DO CAÇADOR “
Localização: Vindo de Bucelas quando termina a subida (começa a descida para a quinta nova)do lado direito de situava o dito restaurante
Tinha um grande letreiro pintado no muro, cujos vestígios ainda se poderão 

Carlos Cardoso
 Obrigado. Entretanto já foi possível descobrir que o Paço do Caçador era uma associação, formada a 29 de Junho de 1943, sediada no Casal das Murgas e que desenvolvia as actividades referenciadas no texto.

Luisa Marques Silva
E está correto, o meu pai Diamantino Alves da Silva (90 anos), não se lembra da associação, mas diz que o Paço do Caçador era na Quinta Nova.

O “MEU” FREIXIAL

A minha infância foi passada no Freixial nos fins-de-semana e férias . A minha avó paterna tinha lá uma casa à beira da estrada, em frente à Pensão da D. Regina e da Escola Primária

Assim que terminava a escola íamos para o Freixial, o meu pai ia todos os dias trabalhar para Lisboa do Freixial. Sempre considerou essa a sua terra, tanto que deixámos aí as cinzas dele. O Luis da Mimi, o Luis filho da Conceição e do Sr. Silva. O seu desejo era comprar uma casa no Freixial. A mãe já demente, vendeu a casa e todo o seu recheio sem dizer aos filhos. O meu pai teve um desgosto enorme, teria comprado aquela casa, à beira da estrada, em frente à Pensão e ao lado das escadinhas. Ao fundo das escadinhas, a cabeleireira que trabalhava em casa, à esquerda a vacaria. Descendo em direção ao largo, a Adega do Vasco.

Enfim... as melhores lembranças de toda a minha vida. Chegar ao Freixial era ter em todo o lugar uma extensão da casa, andávamos à vontade, sem receios, a apanhar amoras na beira da estrada.

a aldeia dos cowboys

Subimos eu e o meu irmão, Miguel Paulitos, ao Picoto, Picotinho e Picotão. Brincámos muito na “aldeia dos cowboys”, um estúdio ao ar livre onde filmavam
westerns (não sei se ainda existe). As codornizes que nos chegavam dos aviários.

A casa era grande, com 2 pisos e sótão. Chegámos a ter 24 pessoas a dormir lá em casa. Íamos apanhar caracóis, com os nossos chapéus de palha e os cajados (canas) que enchiam uma caixa na casa das ferramentas ao fundo do quintal.

No tanque, recordo o barulho dos caracóis a serem lavados pelo meu pai.


A Mina! O Rio Trancão era visita imediata assim que chegávamos para ver como estava o caudal.

Os incêndios. Lembro-me de chegarmos ao Freixial num ano em que lavrava um incêndio enorme. Íamos com o Fernando Madeira no seu Citröen boca de sapo. Mulher e filhos em casa e lá foram juntar-se ao povo a apagar o fogo. Povo unido e solidário, do Freixial. Um dia gostava de realizar o sonho do meu pai e ter uma casa no Freixial, era a minha “ida à Terra”.

Ainda hoje sinto o cheiro do pão de Mafra da carrinha que ia vender pão, “um panito para o Sr. Luis” e com um cajado puxava um panito bem tostado. A buzina da carrinha que vendia peixe e, uma vez por semana passava a carrinha que vendia atoalhados, batas, panos de cozinha... o leite íamos buscar à vacaria.

E era no Largo do Chafariz que se faziam as festas populares, com barraquinhas das quermesses, as rifas. Depois saltava-se a fogueira e queimava-se a alcachofra, se florisse no dia seguinte era amor correspondido.

Na casa da minha avó, casa de férias, não existia saneamento básico nem água canalizada. Tinha uma cisterna no quintal que por vezes tinha que ser enchida pelos Bombeiros e um reservatório no telhado para recolher a água da chuva. Na enorme cozinha a água era fervida para podermos beber. Os banhos eram com água aquecida numa chaleira elétrica e a água era colocada num balde com furos e cordão para accionar a saída da água. Lembro-me da preocupação da minha avó e pai, sempre a espreitar a cisterna em anos de seca e lá tinham que chamar os Bombeiros para encher de água. Isto há cerca de 40 anos atrás, no tempo do Vasco da Adega, da Pensão da D. Regina, da loja/café/taberna/mercado da D. Júlia. Ainda conheci o Constantino, o guardador de vacas e de sonhos. Meu querido Freixial.

Recordo também que há 40 anos atrás entrei em muitas casas de amigas cujo chão era de terra batida e não tinham casa de banho.

Foi aí no Freixial que o meu pai conheceu e se tornou amigo do Alves Redol, passando a participar das tertúlias que ele fazia no seu refúgio com outros camaradas antifascistas.

O FREIXIAL será sempre a minha terra.
texto de:
Luisa Paulitos